quinta-feira, novembro 29, 2007

Peter Murphy

Can you feel the light The air is wild open

No dia 11 de Julho deste ano, a propósito do aniversário de Peter Murphy, escrevia isto: "Peter Murphy (com ou sem Bauhaus) já passou várias vezes por Portugal, mas eu nunca o pude ver ao vivo, naquela que é uma das minhas grandes frustrações enquanto fã de música. Pode ser que um dia...". Mal sabia eu que quase cinco meses depois esta minha frustração iria finalmente ser resolvida, e sem necessidade de visitar o psiquiatra. Estamos a 24 horas do concerto por que eu esperei muito tempo, por isso resolvi dedicar algumas linhas à sua vida e ao seu trajecto musical.

Comecemos por saber que Peter Murphy vive em Ankara, na Turquia, é casado e pai de dois filhos. A sua mulher, Beyhan Murphy, directora artística da Companhia Nacional de Dança Contemporânea da Turquia. Os filhos, um rapaz e uma rapariga, têm 16 e 19 anos, respectivamente. Apesar de ter nascido no seio de uma família católica de ascendência irlandesa, Murphy converteu-se ao religião islâmica, facto ao qual a mudança para a Turquia poderá não ser estranha.

Depois desta introdução um pouco ao estilo "Caras Notícias", vamos ao que interessa, a música. Em 1978 fundou os míticos Bauhaus, banda que definiu uma geração. Com Daniel Ash (guitarra), Kevin Haskins (bateria) e David J (baixo), editou quatro álbuns de estúdio. O ano de 1983 trouxe o fim da banda e com ele o envolvimento de Murphy no projecto Dali's Car, com o ex-baixista dos Japan, Mick Karn. Após um álbum lançado, o projecto encerrou a actividade e Peter Murphy deu início, então, à sua carreira a solo.

A aventura começa em 1986, com Should The World Fail To Fall Apart, que inluiu temas como Final Solution e Tale Of The Tongue. O primeiro trabalho apresentava um Peter Murphy menos dark, mais pop, sem cair na banalidade. Seguiu-se aquele que sempre foi para mim um álbum de referência dos anos 80: Love Hysteria (1988). Canções como All Night Long, Indigo Eyes, Dragnet Drag e o dramaticamente mágico My Last Two Weeks são imperdíveis. Em 1990, surgiu Deep, o álbum de maior sucesso comercial ou não incluísse Cuts You Up, uma canção que arrasou as pistas de dança alternativas (e não só). Mas Deep é muito mais do que esse tema. Crystal Wrists, Deep Ocean Vast Sea, Marlene Dietrich's Favorite Poem e A Strange Kind of Love são momentos de passagem obrigatória. Seguiu-se Holy Smoke, em 1992, na minha opinião, um álbum que não atingiu o mesmo nível musical dos anteriores trabalhos. Ainda assim, dele faz parte esse hino pop sublime chamado Hit Song. Em meados dos anos 90, mais precisamente em 1995, Murphy surpreende-me com uma álbum fantástico, chamado Cascade, numa altura em que a esperança que ele voltasse ao nível a que me habituara começava a desvanecer-se. Cascade foi uma explosão de emoções, com temas fantásticos como Gliding Like a Whale, I'll Fall With Your Knife e o extremamente poppish The Scarlet Thing in You. Em 1998, Murphy editou Recall, um EP que inclui um Indigo Eyes '98 contou com a colaboração vocal do cantor turco Shengu num tema. Seguir-se-iam uma compliçaõa, Wild Birds 1985-1995 (2000) e um álbum ao vivo, aLive Just For Love (2001) num registo mais intimista, feito de violinos e guitarras, que atesta a magia ao mesmo tempo simples e poderosa da sua música em palco. O ano de 2002 viu sair Dust, o sétimo trabalho de originais do músico, um álbum que reflecte as influências que a estética musical oriental exerceu em Peter Murphy. Com composiões mais complexas e longas, este é um álbum que sai um pouco dos cânones da pop de Murphy. Em 2004, surgiu aquele que é até à data o seu último trabalho, o álbum Unshattered, considerado por alguns como o menos conseguido da sua carreira.

Independentemente do que se possa achar deste álbum - eu gosto! - é de crer que o espectáculo que Murphy dará amanhã no Pavilhão de Gaia visitará todos os momentos mágicos que compuseram a sua carreira a solo, desde 1985, e, quiçá, alguns toques de Bauhaus para não deixar triste o pessoal gótico que por certo marcará presença. Uma coisa é certa: Peter Murphy vai dar o seu melhor, até porque ele sabe que tem em Portugal uma legião de seguidores fidelíssima. Não é por acaso que, no site oficial, surge a seguinte linha, na notícia do concerto de amanhã: "This is a home audience. Expect all you ever wanted"

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